terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Roubo Criativo

O que vou falar hoje aqui no blog é algo que já me incomoda tem bastante tempo, mas nunca tirei um tempo para elaborar um texto sobre isso. Foi aí que apareceu uma coisa bizarra na minha linha do tempo do Facebook, que foi quase um chamado. Para dar uma ideia geral sobre o que vou falar aqui nesse post, vai aqui algumas dicas: processo criativo, direitos autorais, memes, youtubers, páginas do Facebook, curtidas, compartilhamentos. Tudo parece meio confuso, não é? Porém, no fundo tudo tem uma relação e eu vou começar falando sobre a publicação que me motivou a escrever esse post hoje.

NOTA ESCLARECEDORA!!!!!!O Jedi's Burger & Grill, foi inaugurado no dia 06 de junho de 2015. Todo o restaurante foi...

Bem, se você leu direito o conteúdo do post acima, dá para perceber o que aconteceu. Sócios montaram um restaurante com a temática de Star Wars sem ter autorização dos donos da marca para tal. Depois de alguns meses, receberam uma notificação para retirarem a marca de veiculação do restaurante deles. Simples, não é? Coisa básica. Se você não é dono de uma coisa, você não pode usá-la simplesmente. É a mesma coisa de eu chegar, ver uma bicicleta parada na rua e resolver dar uma volta sem a aprovação do dono. A bicicleta não é minha, como eu posso querer ter o direito de me apropriar dela?
Só que a problemática vai muito além disso. O post acima só mostrou uma coisa que eu já sabia: a maioria das pessoas não consegue enxergar algo que não é físico como algo que tenha propriedade. Afinal, né, ele estava usando a temática de Star Wars. E assim, muitos defenderam o restaurante e até começaram a criticar o governo, VEJA BEM, por ser corrupto e xingar o Brasil, já que “pessoas de bem e trabalhadoras não podem ter o seu negócio que vão lá e acabam com tudo!”. Isso, me motivou muito a vir aqui e escrever sobre porque é algo que as pessoas precisam se ligar de uma vez por todas.
Há trinta anos atrás George Lucas criou Star Wars e a saga é um sucesso até hoje. O novo filme está arrastando multidões para os cinemas e vendendo produtos aos baldes. Eu tentei comprar uma almofada do Stormtrooper pro meu irmão de presente, mas não consegui porque ela vendeu feito água no deserto. Aí vem algumas pessoas, no meio do ano passado, pegam MUITO dinheiro e investem ele todo para montar um restaurante com a temática Star Wars. Eu falo muito dinheiro porque é só olhar as fotos que fica claro que eles não gastaram pouco. OK, eles podem ser super fãs de Star Wars e queriam fazer uma homenagem, mas é muita idiotice pensar que eles não fizeram o que fizeram com a intenção de vender um espaço de Star Wars para uma legião de fãs que agora só tende a crescer por causa do filme. Não creio que eles investiram tanto dinheiro só para fazer homenagem, porque era mais fácil eles fazerem isso na casa deles.
Como eles puderam prever, o restaurante viralizou e eu li que para entrar você precisava esperar uma fila de duas horas. Pessoas foram para São Paulo apenas para ir no restaurante. Por mais que a comida seja boa, você acha que se não tivesse Star Wars no meio, as pessoas iriam sair das cidades delas, iriam pegar um avião/ônibus e iriam para São Paulo comer um hambúrguer? É só raciocinar um pouco. O que as pessoas, que montaram o restaurante, devem ter ganhado em cima da marca Star Wars não é brincadeira. Acredito que em um mês eles conseguiram o retorno do investimento deles. E isso tudo, não com trabalho honesto, ou suado. Eles conseguiram através do trabalho de anos atrás do George Lucas. Enquanto isso, o seu Zé que pagou um designer gráfico para montar uma logo, para ele poder montar seu restaurante, ficou chupando o dedo. A comida do seu Zé até pode ser melhor que a do restaurante espacial, mas seu Zé não tem a temática do Star Wars, então não vale a pena.
O que estou falando aqui não é brincadeira. Por trás de tudo o que foi feito em Star Wars, houve um designer ou alguém que teve a ideia e colocou em prática. Por trás da logo da Coca-Cola, teve alguém que parou a vida e pensou em algo, em um símbolo para retratar a companhia. Para ter noção, a Disney comprou os direitos de Star Wars por 4 BILHÕES de dólares. Ela pagou tudo isso por uma ideia do George Lucas. Ela não comprou o próprio Lucas, ela comprou a ideia dele. Tanto que se o novo filme fosse um fracasso, seria culpa da Disney, porque ela executou a ideia da forma que ela quis. Vários cinemas e marcas, desenvolveram produtos ou deram brindes de Star Wars para os consumidores. Você acha que não pagaram nada para a Disney? Lojas desenvolveram roupas e almofadas de Star Wars. Eles tiveram a ideia do produto, mas a ideia do produto estava ligado à uma marca. Logo, eles pagaram os direitos de uso da marca para poderem comercializar isso. Afinal, uma camisa com o Vader e uma camisa só preta não tem o mesmo apelo, não é?
Quando os donos do restaurante montam uma temática de Star Wars eles vendem o espaço antes mesmo de venderem a comida. Da mesma forma que os parques da Disney e da Universal antes de venderem produtos, vendem o espaço com a temática. Você acha que se a J.K. Rowling não autorizasse a Universal, a empresa poderia fazer um parque do Harry Potter? Claro que não. Porque ela possui os direitos da franquia. Ela diz o que pode ou não ser feito com a marca. Mesmo que seja apenas um espaço em homenagem à marca. Pessoas pagam e consomem por isso. Muito mais do que o produto em si, mas a ideia dele. Todos os dias vemos em algum lugar processo de patente, porque até bens físicos podem ter seus designes ou tecnologias copiados. O conceito é algo muito mais valioso que o material. O material sem um conceito continua sendo apenas um material. O material com uma ideia é um produto e por mais forte, potente e melhor que ele seja, você não irá comprar se ele não for bonito ou te agradar.
Ah, mas o pessoal do restaurante tentou negociar com a Disney e eles não quiseram”. A Disney tem todo o direito de recusar o que ela quiser. Imagina se acontece algo no restaurante. Imagina se eles vendem algo estragado e uma pessoa passa mal. Você acha que quem iria ficar mal, o restaurante ou o restaurante licenciado pela Disney? Vocês percebem a importância da marca? Nesse caso, não falo de Star Wars, falo da própria Disney. Se eles aceitassem o acordo, o nome da empresa estaria atrelado ao restaurante. O restaurante passaria a ser “o restaurante de Star Wars licenciado pela Disney”. Épico, não? Iria passar muito mais credibilidade. E aí qualquer pingo fora do “i” que ocorresse lá, o nome da Disney que ia para roda. Talvez seja por isso que a empresa não tenha aceitado o acordo. Indústria alimentícia é algo sério demais para ser tratado de qualquer forma.
Mas não é só sobre isso que vim tratar nesse texto. Esse fato tocou em uma ferida antiga que tem relação a esses assuntos. Como disse na minha primeira coluna aqui do site, eu já fui de um site chamado Incantatem e este site tinha dois blogs, um deles sendo o #UmAvadaKedavra. Agora, preste atenção nas duas publicações abaixo:

HIT DO MUNDO BRUXO!"Deixa ele matar, não olha, nem mexe....AH, É TERRÍVEL!"(VOLDYNHO, Mc)Paródia da Música Ela é top:http://www.youtube.com/watch?v=3iUV_WIqPJw
Posted by #UmAvadaKedavra on Friday, 29 March 2013


Pra você que quer dar #UmAvadaKedrava no BBB antes dele estrear!
Posted by #UmAvadaKedavra on Thursday, 3 January 2013

Essas duas imagens foram criações minhas. Inclusive, depois eu criei a música toda do “Ele é Lorde” e publiquei no Portal Caneca, outro site que participei. Você pode conferir clicando aqui.
O que essas duas imagens tem a ver com o assunto todo? Muita coisa. Primeiro que quando eu criei todas as duas imagens, eu não tinha pretensão nenhuma de que isso viralizasse e bombasse. Era mais brincadeira mesmo para produzir conteúdo para a página. O que aconteceu foi que as duas postagens geraram tanta repercussão que até hoje eu vejo páginas repostando elas. E é aí que está o problema. Infelizmente, o Facebook virou terra sem lei, assim como a internet como um todo é. É legal que as páginas queiram compartilhar a foto com os curtidores dela, mas porque não usar a plataforma que o próprio Facebook tem? Porque assim, todos os likes vão para a página que postou primeiro. Porém, isso não ocorre. As pessoas se dão ao trabalho de salvar a foto e postar na página só por curtidas e compartilhamentos.
Dessa forma, vi páginas enormes de mais de cem mil curtidas fazerem a mesma coisa. Sabe por que isso é frustrante? Porque eles estão roubando uma ideia que eu tive e estão monetizando em cima disso. Hoje, uma página com cem mil curtidas tem muito poder no Facebook. Eles conseguem atingir muitas pessoas e até ganham dinheiro com isso. Se você, leitor, não consegue perceber que toda vez que você curte algo ou compartilha algo você está pagando à página, pare tudo o que você está fazendo agora e reflita sobre isso. Você acha que o Facebook é gratuito, mas não é. Indiretamente você paga muito para acessá-lo. Já viu as propagandas que aparecem na lateral direita da tela? Então, para cada pessoa que vê aquela propaganda, o Facebook recebe da empresa uma quantia. Para cada clique, outra quantia.
As páginas, hoje em dia, funcionam da mesma forma. Se você não sabe, tem como você pagar para o Facebook mostrar uma postagem da sua página na linha do tempo de várias pessoas. Você paga pelo alcance. Quando uma página rouba o meme de outra, posta na página e ela viraliza, essa página ganha curtidas e compartilhamentos, o que aumenta o alcance de uma postagem da página. Mais alcance, mais probabilidade de alguém curtir a página e aumentar o alcance geral da mesma. Além de que, uma página com mais de cem mil curtidas acaba virando geradora de opinião. Quanto mais suporte uma página tem, mais valor agregado tem seu nome e ela pode acabar recebendo convites para fazer mershan de algo ou alguém. Por que vemos youtubers em propagandas na televisão? Porque eles tem milhões de inscritos, ou seja, milhões de pessoas gostam dele e eles fazem essas pessoas prestarem atenção nos produtos que eles estão oferecendo.
Por isso, estou problematizando esse assunto aqui. Não é algo simples e nem banal. Quando você curte e compartilha uma foto que está com uma tag (aquela pequena identificação nas fotos) que não condiz com a página, você alimenta esse roubo criativo e vou dizer uma coisa: isso cansa. Eu gosto muito de criar esses tipo de brincadeiras, mas pra diversão mesmo. Me irrita saber que as pessoas pegam elas por outro motivo. Chegou ao cúmulo de ver uma dessas fotos com um grande retângulo preto em cima da tag. E o pior é que não é só comigo que eu presenciei isso, mas com uma página muito maior.
Quando o Robin Williams morreu, a página do Oscar postou a foto do Aladdin abraçando o gênio com a seguinte legenda “Gênio, você está livre” (em inglês), fazendo referência à uma citação de uma cena da famosa animação da Disney, onde Robin Williams interpretou a voz do gênio. Percebam que a ideia foi genial, tocante e muito compartilhada no Facebook. No dia seguinte, uma página sobre cinema grande (não citarei nomes), que por acaso é do mesmo grupo de uma página grande sobre Harry Potter e que postou uma daquelas imagens que mostrei em cima, fez exatamente a mesma postagem, só que com o texto da legenda em português. Dá para perceber a perversidade das pessoas até em um momento super triste para os fãs do ator? Pegaram a postagem e reproduziram da mesma forma para abusar do emocional das pessoas que ficaram tocadas, com certeza, com a ideia e curtiram e compartilharam. No meu entendimento, isso é muito grave. É algo que tem a ver com caráter, ainda mais querendo kibar (termo usado quando plagiam memes dessa forma) uma página grande como a do Oscar.
Comentei na imagem dizendo que aquilo que eles estavam fazendo era um absurdo e linkei o post do Oscar e sabe o que aconteceu? A página disse que o Oscar não tem o direito autoral do Aladdin, mas sim a Disney e começaram a me zoar e muitos fãs da página embarcaram nessa história. Eu saí como um histérico que queria problematizar. Tudo bem, não é questão de direitos autorais como no caso do restaurante do Star Wars, de forma alguma. É questão de caráter, é questão de reconhecer o trabalho dos outros e reconhecer que se você não teve nenhuma ideia é melhor não postar nada ou então trabalhar mais para ter a sua ideia. É questão de princípio. Com certeza a pessoa que postou na página do Oscar é alguém que recebe para ser Social Media (criador de conteúdo e gerenciador das redes sociais). Ele trabalha e recebe por isso. Quando alguém copia o trabalho dessa forma, é a mesma coisa de eu pegar, olhar a Mona Lisa, copiá-la em um quadro e vender. É claro que a diferença monetária é enorme, mas o que eu quero tratar aqui são princípios éticos sobre o certo e o errado. Não dizem que a corrupção começa nas coisas mais simples? Então, é sobre isso que quero tratar.
Outro exemplo é sobre vídeos no YouTube. Jout Jout, que é uma youtuber famosa, resolveu fazer um vídeo falando sobre estupro e assédio sexual. O vídeo fez um grande sucesso, só que poderia ter feito muito mais. Uma página do Facebook (de novo, sem citar nomes) sobre emponderamento feminino simplesmente baixou o vídeo TODO (algo que nem sei se é legal) e fez upload na página integralmente. Para vocês terem uma ideia, o vídeo nessa página teve mais de um milhão e quinhentas mil visualizações e o vídeo no canal oficial tem menos de um milhão e quatrocentos mil. Para quem não sabe, todos os youtubers ganham pelo número de visualizações e curtidas que o vídeo tem no canal deles no YouTube. A Jout Jout, por exemplo, vive disso e se sustenta disso. Esse é o ganha pão dela de todo dia. Dói saber que pessoas pegam o trabalho dela para ganhar curtidas, visualizações, compartilhamentos e assim dinheiro às custas dela.
Eu fiquei irritado com uma imagem que fiz no Photoshop, imagina ela que estudou sobre o assunto, gravou, regravou um vídeo, editou e postou no YouTube? É a cara e a opinião dela que estão no vídeo. É a alma dela ali. Eu, assim como outras pessoas, questionaram nos comentários o fato. Para se ter uma ideia, a própria Jout Jout tem uma página oficial no Facebook e ela posta o link para o YouTube. A página não respondeu ninguém e continuou com a publicação. Tentei denunciar a postagem pelo Facebook, mas a única coisa que pude fazer foi mandar uma mensagem para a página. Da mesma forma, fui ignorado. Não fiz isso porque queria aparecer não, nem um pouco. Eu fiz isso porque eu não consigo ver uma página roubando conteúdo de uma pessoa e ser ovacionada por todo mundo. Se as pessoas parassem um pouquinho para pensar sobre tudo o que veem na internet, com certeza, postagens assim seriam tão criticadas que ao invés de ser algo positivo para a página, seria negativo.
O Caçador de Pipas é um livro incrível e tem uma passagem extraordinária. Ela fala o seguinte:

"Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente a variação do roubo. Quando você mata um homem, está roubando uma vida, está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos o direito de ter um pai. Quando você mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando você trapaceia, está roubando o direito à justiça. Entende? Não há ato mais infame que roubar."

Quando escrevi a palavra “roubo” no título, não escrevi com a intenção de levar o caso para o valor monetário dele. Há coisas muito mais valiosas do que dinheiro, que podem ser roubadas de alguém. A ideia é um exemplo. Para isso, infelizmente, há apenas o amparo dos direitos autorais que ainda é algo muito frágil. O dono do restaurante, por exemplo, disse que não havia registro da marca deles (Star Wars) na indústria alimentícia. Porém, eu acredito que quando alguém se apropria de algo tão forte como uma ideia e a usa para motivos tão fúteis essa pessoa também é roubada. Aliás, acredito que essa pessoa deixa ser roubada. Ela pode ganhar dinheiro, mas em troca deixa ir embora o caráter e a ética.
O meu intuito ao publicar esse texto é apenas iluminar a cabeça de pelo menos uma pessoa, ainda mais nesse ano que estar por vir. Vamos refletir sobre o trabalho das pessoas, vamos buscar conhecer de onde vem aquela imagem engraçada que nós gostamos. Vamos dar valor às pessoas que fizeram por merecer e que realmente trabalharam para trazer um conteúdo para a gente. E o mais importante: não vamos nos calar ou deixar para lá quando nos depararmos com alguma injustiça. Sempre temos a opção de mudar, ou não, algo que achamos errado. Esse texto é uma das minhas ações para tentar mudar uma coisa que eu acho muito errada na internet. Vamos levar isso para tudo nas nossas vidas, que vai ser sucesso e poderemos modificar de fato a sociedade ao nosso redor.


OBS: Se você chegou no blog através dessa coluna e quer saber mais sobre esse espaço, leia a minha primeira coluna explicando o blog clicando aqui. Não deixe, também, de curtir, conscientemente, minha página no Facebook clicando aqui e de participar do sorteio de final de ano clicando aqui!
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